26/02/2009

Os traumas coletivos e a banalidade do mal em O Leitor


Hanna Schimtz e toda a Alemanha padecem de um mal irremediável: um passado negro que ainda os persegue. Enquanto que Hanna cometeu atos condenáveis em nome do cumprimento do dever, a Alemanha teve entre suas fronteiras o palco para a realização de um dos maiores atos genocidas de toda a História: o Holocausto.

O Leitor humaniza os algozes anti-semitas, trazendo a eles a imagem ao mesmo tempo frágil, determinada e ignorante da oficial nazista Hanna, que, depois de ter um caso com um adolescente e receber uma promoção no trabalho, decide ir embora da cidade, procurando fugir de um "defeito" que a persegue e envergonha.

A idéia de Stephen Daldry ao construir a delicada história de Hanna Schmitz de maneira tão objetiva - extinguindo alguns exageros melodramáticos e enfatizando em atuações sutis de seu elenco magnífico - talvez fosse a tentativa de nos fazer olhar com objetividade os acontecimentos que levaram a cobradora de bondes ignorante e rústica vivida por Kate Winslet a destruir tantas vidas judias sob a justificativa do cumprimento do dever.

Da mesma maneira que os estudos de Hannah Arendt sobre a banalidade do mal - sobre Adolf Eichmann, oficial nazista que justificava da mesma forma suas atitudes anti-semitas -, Winslet constrói uma personalidade misteriosa e, ao mesmo tempo, simples para uma mulher que esconde um segredo que lhe traz vergonha e humilhação, o que, contraditoriamente, não acontece com os crimes genocidas cometidos durante o Holocausto.

Esse longa acumula ainda a idéia dos trauma coletivos que a Alemanha ainda sofre, tendo em seu passado um fato como o Holocausto, que terminou corroborando seu estigma de rudeza e xenofobia diante dos outros países. A complexidade do longa torna-o um dos melhores filmes que concorreram às principais premiações deste início de ano, com uma edição e um roteiro que misturam passado e presente de seus protagonistas fluentemente e esclarecem as idéias que Daldry deseja transmitir e, por consequência, tocar seu espectador.

Nenhum comentário:

Postar um comentário