19/03/2009

Deixe ela entrar e a inevitabilidade do contato




Qual a possibilidade de se isolar do mundo a ponto de negar o contato com o outro? Na citação aristotélica, "O homem é um ser social", estamos intrinsecamente destinados a nos relacionar, por mais que não o desejemos ou possamos.

A delicadeza surge de maneira fantástica no relacionamento entre Oskar - um frágil adolescente perseguido na escola e que cria para si um círculo de antipatia e rejeição - e Eli - uma criatura fantástica que necessita abster-se do contato emocional com outros seres humanos -, ambos negligenciados, marginalizados pela sociedade de que desejavam fazer parte, mas cuja hipocrisia e violência - mesmo que simbólica - emergem quase aceitáveis em Deixe ela entrar, longa do sueco Tomas Alfredson.

Como sobreviver às intempéries que a própria vida dispõe à nossa frente? Bem, como atesta Eli em certo momento: "Revide". Aproveite a oportunidade para lavar sua própria alma, não deixe que a apatia tome conta do seu espírito. O revidar não está simplesmente em devolver com a mesma moeda ou intensidade, mas em se relacionar com a sua condição de ser humano e permitir-se dominar pela emoção. Talvez desse jeito, fosse possível livrar-se da violência que cometemos contra nós mesmos todos os dias.

Certos 'nãos' que dizemos aos outros podem fazer mais do que qualquer violência física, pois aprendemos a nos afirmar diante do outro e realizamos o contato tão desejado, deixando a apatia enterrada ante a felicidade da satisfação. Oskar aprende a dizer 'sim' às próprias emoções, não precisando mais ocultar-se diante de uma sociedade que o oprime. Tudo isso porque permitiu que o relacionamento entre ele e Eli fizesse parte de sua vida, mesmo com a violência com que precisavam declarar: "Eu estou aqui".

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