18/04/2009

Valorizando os sacrifícios em As Bicicletas de Belleville


Todo herói realiza sacrifícios para o cumprimento de sua jornada. Mas poucos são os heróis cuja realização está no bem-estar do outro, negando, muitas vezes, a própria existência em prol da felicidade do outro.

Madame Souza, nossa heroína em As Bicicletas de Belleville, cumpre esse papel com louvor, entregando o sentido de sua vida na felicidade de seu neto Champion. Inicialmente um garoto melancólico e infeliz - que mal percebe a existência de sua avó -, Champion encontra sua realização numa bicicleta dada por Souza. Desde então, ela vem ajudando o garoto a se tornar o campeão da Tour de France, acompanhando-o nas corridas diárias, cuidando de sua saúde. As dificuldades começam quando ele é sequestrado por mafiosos, que montam um esquema de apostas clandestinas que exploram o desejo de outros ciclistas como ele.

O diretor Sylvain Chomet constrói uma fábula que critica a obsessão capitalista que leva à criminalidade em favor do amor maternal que essa avó mantém por esse ente querido. Levando em consideração os elementos de que ele se utiliza para essa construção (narrativos, imagéticos e sonoros), pode-se ainda inferir que sua crítica resvala exatamente nos Estados Unidos - de onde vem a influência da máfia, da trilha sonora noir que os caracteriza, além da invasão capitalista que promovem.

Mesmo com todos esses elementos confluindo para que sua idéia torne-se clara para o espectador, Chomet ainda dá espaço para a emoção surgir subliminarmente: ao final do longa, aquele garoto melancólico que talvez nem percebesse a existência de sua avó, finalmente lhe dá ouvidos, respondendo com carinho uma de suas perguntas. Quantos sacrifícios nossos pais já fizeram? E quanto ainda viveremos esquecendo tudo isso?

Nenhum comentário:

Postar um comentário