06/07/2009

A festa da menina morta e seus tênues limiares


Imagens. Falam mais do que palavras. Com esse clichê, pode-se explicar muito da sensação de se conferir o longa de estréia de Matheus Nachtergaele - A Festa da Menina Morta: um filme que não mexe necessariamente com o coração, mas com nossas expectativas, com o que nosso raciocínio procura enquadrar e classificar

Nachtergaele mostra-se um diretor habilidoso na construção dos enquadramentos e no tempo que permite que apareçam, mas peca por momentos excessivamente teatrais e por contrastes tão gritantes na edição que mexem com a fluência da narrativa. Um mecanismo interessante - que remete muito à própria esfera de paradoxo do longa -, mas que cansa quando utilizado em excesso.Mesmo com alguns problemas típicos de principiante, o longa desconforta, perturba, pois muitos são os elementos obscuros e truncados no roteiro.

Há muito implícito nas relações entre Santinho, suas "criadas", seu pai, Tadeu. Esses nós, em nenhum momento se desvelam, o que, a uma primeira vista, incomoda, sim. Mas a atuação hipnótica de Daniel de Oliveira faz com que isso flua contundentemente, quase palpável na tela. Talvz seja essa indefinição de identidade que incomode tanto a ele e a nós: a indefinição "santidade" e paganismo, entre masculino e feminino, entre verdade e mentira, entre amor e desrespeito. Santinho caminha nesse limiar incômodo: suas explosões vêm repentinamente e pelos motivos mais triviais, pulando para o insano quando menos se espera. Como nós, muitas vezes.

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