19/09/2009

Uma sanidade desvelada: O Mundo de Andy


Questionar a fragilidade das convenções da sociedade. Perceber o absurdo e a comicidade das nossas crenças mais fervorosas. Demonstrar a hipocrisia dos nossos atos e palavras. Andy Kaufman, cujo sonho de ser um astro tomou amplas proporções e o levou à eternidade, teve sua carreira transposta para o belo filme orquestrado por Milos Forman - O Mundo de Andy - e interpretado maginifcamente por Jim Carrey.

No roteiro dinâmico de Scott Alexander e Larry Karaszewski, o comediante descortina e supreende o espectador com sua insanidade - apenas parte de um show, de uma encenação criada por ele e seu braço-direito, Bob Zmuda. Na verdade, percebe-se Andy como o mais lúcido daqueles personagens que optam por manter um sistema de sensos e ideiais que não lhe pertencem de fato, mas foram impostos por 'não-se-sabe-quem'. Quem dita as regras? Que nos disse que o caminho é este ou aquele? Quem nos avisa do momento certo de rir ou aplaudir: uma placa de sinalização das famosas claques televisuais? Existe alguma dália que nos dite o texto e nossas ações como platéia? Por que não devemos mostrar nossa vida, nossa reação diante de um espetáculo ao invés de simplesmente rir ou aplaudir? É a isso que se limita a comunicação?

Kaufman amava seu público mais do que a tudo, por mais que não parecesse demonstrar. Tratava-o como pessoas vivas, que podiam reagir diante daquilo que ele propunha. Respeitava suas opiniões, apesar de discordar delas. Queria lhes mostrar um novo mundo - o seu próprio -, onde tudo aquilo que eles apreciavam era falso. Com um cantor de Las Vegas violento e agressivo, denunciava o desrespeito e a hipocrisia dos grandes astros. Com seu número musical do Supermouse, nos mostrava o absurdo da nossa obsessão pelo diálogo. Com um praticante de luta greco-romana misógino, criticava os machistas e orgulhosos homens que apreciam a tomada do poder pela força.

Suas maiores piadas não eram compreendidas por todos, mas por ele mesmo. Ria daquilo que contrariava seus princípios. Mas não somos todos assim? Apenas omitimo-nos embaixo de uma capa de hipocrisia que não faz sentido nenhum. Respeitar não significa somente se omitir. Respeitar está em ter coragem de discordar, mesmo sabendo as coerções que se pode receber. O humorista estava além daqueles que desejam entregar pão e circo para as massas, mas descortinava sua sanidade através de suas performances mais esdrúxulas. Esdrúxulas? O que pode ser considerado esdrúxulo num mundo onde a violência, a prisão e a exclusão são muitas vezes consideradas soluções para aqueles que agridem nosso senso de "normalidade"?

2 comentários:

  1. Um dos grandes filmes da década de 90, injustiçado em várias premiações, talvez por Forman já ter prêmios demais.

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  2. Concordo plenamente com você, Billy.

    Abração

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