01/02/2010

Avatar. Tecnologia de ponta. Roteiro em P&B.


Os EUA ainda tentam curar os males do preconceito tão presentes no seu mais íntimo. Talvez seja esta uma das razões que levem à contrução de tantas obras que enfatizem a absorção da cultura estrangeira pelos norte-americanos - vide Dança com Lobos, O Último Samurai e tantos outros. James Cameron constrói, desta vez, um universo fantástico onde Jake, um soldado paraplégico, se infiltra no planeta Pandora a fim de trazer informações valiosas para exploração de recursos por uma empresa multinacional em constante expansão. Utilizando-se do avatar criado para seu irmão morto, Jake envolve-se emocionalmente com os Na'Vi, habitantes do planeta, e, mesmo sofrendo com o ofício que precisa cumprir, entrega as informações para a equipe militar, que destrói o lugar e a civilização em busca dos recursos que precisam para expandir ainda mais seu domínio comercial. Mas o envolvimento de Jake pelos Na'Vi leva-o a engendrar uma batalha contra seus próprios empregadores, na tentativa de salvar aquela civilização.

James Cameron, depois de anos de hiato, traz uma obra que, tecnologicamente, cumpre seu papel como uma revolução sem parâmetros na experiência do "ver cinema", do "experimentar o cinema", porém, em contrapartida, cria uma narrativa repleta de clichês cinematográficos que não envolvem suficientemente o espectador com um senso crítico mais apurado. Tendo para si três horas longa-metragem, o diretor não aproveita o tempo que possui para delinear melhor suas personagens, mas traz para cada um as perguntas e respostas "espertas" comuns nos seus longas, mas que pouco fazem para torná-los pessoas de verdade. A experiência cinematográfica não se restringe à uma estética visual ou sonora impecáveis, mas tudo isso está a serviço de uma história que encaminhe o espectador para o universo proposto pelo diretor. Talvez preocupado em excesso com o avançar da sua tecnologia, Cameron propõe uma narrativa ultrapassada e preguiçosa, cujas possibilidades ficam na metade quando vemos um desenvolver tão pobre de personagens - como as propostas para Giovanni Ribisi, Sigourney Weaver, Stephen Lang e Michelle Rodriguez, repletos de estereótipos - que, paradoxalmente, reforça algo que o diretor almeja dissipar: o preconceito. Mas, dessa vez, voltado para os universos da ciência, do militarismo e das grandes empresas.

Não nego, nesse momento, que tais campos não possuam as características que são apresentadas no filme, mas proponho o seguinte: será que, da mesma forma que Cameron nos propõe que enxerguemos os Na'Vi com olhos livres de julgamentos e opiniões formadas, não poderíamos fazer o mesmo com os redutos que o circundam? Será que não está tudo tão preto e branco que esquecemos dos tons de cinza?

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