27/09/2010

Boogie Nights: Uma Família de Desiludidos e Alienados


Ao ver e sentir o cinema de Paul Thomas Anderson de uma maneira geral, encontramos um painel humano da alienação cotidiana, da ilusão de se enxergar diferente dos outros, distanciado da sociedade, seja em Magnólia (Magnolia, 1999), Embriagado de Amor (Punch-Drunk Love, 2002) ou em Sangue Negro (There Will Be Blood, 2007).

Quando pensamos no seu primeiro filme mainstream - ainda não vi Jogada de Risco (Sydney / Hard Eight, 1996) -, no caso de Boogie Nights (Boogie Nights, 1997), podemos reconhecer um cineasta nato, que usa e abusa da linguagem cinematográfica de maneira dinâmica para contar sua história: durante as décadas de 70 e 80, Eddie Adams, um jovem de 17 anos, trabalha num clube noturno frequentado pelo submundo de Los Angeles, dentre eles, Jack Horner, um diretor de filmes pornográficos. Numa dessas noites, o cineasta, ao ver o rapaz, convida-o para participar de sua equipe de produção, pois percebe nele um grande potencial. A princípio desconfiado com a proposta, Eddie, depois de uma briga com sua mãe, sai de casa e procura abrigo com seu novo empregador, através do qual conhece um mundo onde sexo, drogas e riqueza chamam logo sua atenção.

Sua ascensão, queda e renascimento são o foco do cineasta, que, a partir de seu protagonista, abre a passarela para o desfile de diversos personagens cativantes e extremamente humanos:
Amber Waves, estrela dos filmes de Horner e mãe que enfrenta um processo pela guarda do filho; Rollergirl, estudante que deixa os estudos para seguir a carreira de atriz pornô; Buck Swope, ator e vendedor que sonha em montar uma loja de eletrônicos; Little Bill, iluminador que ama uma mulher queo trai literalmente diante de todos; Reed Rothchild, ator que, a princípio desdenhoso com o novo astro Dirk Diggler, se aproveita dele para se manter na mídia; Maurice Rodriguez, dono de um clube noturno que almeja a "fama" de se tornar um ator pornô, mesmo não atendendo aos padrões de beleza necessários para tal; e Scotty, responsável pelo som do filme e que está apaixonado por Diggler. Uma galeria de pessoas à margem do cinema hollywoodiano, mas humanos acima de tudo.

Anderson foca não só na trajetória de Adams - que adere a um novo nome: Dirk Diggler -, mas, com seu roteiro, câmera e edição dinâmicos, consegue se misturar àquele meio de ilusão e fama, onde, aos poucos, todos começam a se revelar. com essa descrição, o cinema de PT Anderson poderia soar moralista, mas o desenvolver de seu elenco confere grande humanidade a cada uma das personagens que passeiam pelas lentes do cineasta. Enquanto todos se enredam cada vez mais nessa teia de prazeres revolucionários de uma década de desbunde, sua humanidade e fraternidade emergem quando enxergamos naquele estúdio um pai, uma mãe, um filho, uma filha e tantos outros membros que ora se amam, ora se desentendem.

Todos necessitamos de uma família, onde quer que estejamos. Esta família que Jack Horner construiu está repleta de viciados e traficantes que trabalham em empregos diurnos e sonham com uma vida diferente, mães e filhas que transam diante de câmeras, diretores e produtores de pornôs que se iludem com a esperança de estar fazendo arte e entretenimento. Semelhante a Eddie Adams e sua crença de que "cada um tem um dom especial", agarramo-nos a nós mesmos e nossa capacidade de realizar qualquer coisa que somente nós mesmos poderíamos fazer.. de ser únicos.

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