13/11/2010

Janela Crítica - BRA 01 – Salvar Arquivo Vol. 2



Transportar imagens e sons além do tempo e do espaço, ressignificando seus contextos históricos, políticos, culturais, mas, acima de tudo, afetivos. Desse modo, parece se configurar a Mostra Competitiva BRA 01 – Salvar Arquivo Vol. 2, que trabalha com arquivos previamente realizados, sejam antigos ou novos.

Trabalhando com o registro dos primeiros anos do chamado Cinema Silencioso em Recife, Janela Molhada (Marcos Henrique Lopes, 2010) equilibra imagens de arquivo e depoimentos de pesquisadores de cinema, atores da época e restauradores das obras em questão, a fim de esmiuçar ao espectador as relações que se estabeleciam através desse nascimento do cinema na Veneza Brasileira. Um documentário que não chama atenção sobre si mesmo, mas permite que seu objeto fale por si.

O segundo curta da noite – Fantasmas (André Novais Oliveira, 2009) – mostra-se como um convite à intimidade de dois amigos, que, partindo de uma conversa banal, terminam por conduzir o espectador por um caminho onde a dor/desejo do protagonista se revelam através do que não está na tela, mas que se espera que esteja. A história não acontece diante da câmera, mas na relação que seu diretor estabelece com a imagem.

Em contraponto/complementação a este curta, surge Supermemórias (Danilo Carvalho, 2010), que pode se definir como um registro familiar e afetivo em Super-8 de memórias, pensamentos e da identidade de uma época – especificamente na Fortaleza dos anos 70. O trivial, o desgastado, o ruído, a musicalidade, o exibicionismo diante da câmera reverberam uma época onde a presença da câmera alterava consideravelmente o posicionamento das pessoas filmadas, como se atuassem diante dela. E, se hoje vivemos uma evolução da nossa relação com a imagem, como os nossos vídeos caseiros falarão a nosso respeito daqui a 40 anos?

E fechando esse ciclo do pensar sobre a imagem como registro, surge Aeroporto (Marcelo Pedroso, 2010), que, equilibrando fotos de sua protagonista a observar as pessoas que passam no aeroporto e as “cartas” que narram para o espectador, mostra um olhar particular sobre os viajantes e desvenda não somente as memórias que eles carregam dentro de si, mas também os rastros que deixaram por onde passaram.

Essa mostra revela um pouco sobre nossas tentativas de eternizar o efêmero, como se não somente as imagens fossem transportadas através do tempo e do espaço, mas também nossa consciência, na tentativa de compreendê-la/compreender-nos um pouco melhor.

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