14/11/2010

Janela Crítica - INT 01 – Intervenções


A ressignificação de um espaço, de um contexto a partir de pequenas ou grandes mudanças. Assim se pode pensar a intervenção, como ocorre nos curtas-metragens desta mostra competitiva.

Brincando com a ficção científica dos anos 50, Synchronisation (Rimas Sakalauskas, 2009) mostra, com a movimentação incomum de cenários dentro de um palco real, um olhar ao mesmo tempo sagaz e pueril sobre o cotidiano de prédios e estruturas banalizadas pelo cotidiano. Momentos de tranqüilidade e contemplação diante de uma tela que parece nos fazer sonhar com a realidade.

Baseado em uma história real ocorrida na Constantinopla de 1910, Chienne d’histoire (Serge Avédikian, 2010) utiliza-se da pintura para construir um curta doloroso em sua temática e estética. Pinturas em aquarela e fotografias em preto e branco se misturam para construir um clima dramático e tenso para a história que cerca a morte de milhares de cães - do considerado irracional e inútil para aquela sociedade.

Utilizando efeitos especiais sobrepostos a imagens reais que mostram o cotidiano futurista e o posterior encontro entre um rapaz e uma moça, o curta Augmented City 3D (Keiichi Matsuda, 2010) propõe ao espectador um questionamento sobre a definição de uma conexão real / presencial quando é o virtual que termina auxiliando nossa relação com ele.

Mostrando as intervenções de um pai e um filho com as paisagens, objetos e entre si, The Insurrectionists Progression (Sylvie Zijlmans e Hewald Jongenelis, 2009) parece questionar o absurdo do consumo, do acúmulo de bens na sociedade contemporânea, quando tudo aquilo que possuímos parece ser maior do que nossa essência e nos distancia da relação com o outro, prendendo-nos a um ciclo vicioso onde quem muda são nossas roupas, nossos objetos, mas nós terminamos sempre os mesmos.

Tratando da dificuldade de um homem pouco letrado em compreender a letra de uma música em outro idioma, Shoum (Katarina Zdjelar, 2009) reflete de maneira descontraída sobre o ilógico entre a formação do fonema e da gramática, da comicidade que emerge a partir do considerado ridículo, da perfeição da música na mídia em contraponto ao cântico espontâneo. O que pode ser considerado absurdo ou não.

Apresentando belíssimos movimentos de câmera e enquadramentos em diversos espaços internos de uma Índia que abre sua intimidade diante do público, Gaarud (Umesh Vinayak Kulkarni, 2009) mostra-se como uma pagina aberta onde o vazio dos espaços, do tempo, das pessoas e da vida paradoxalmente preenchem a tela. Enquanto algumas vidas se esvaziam, outras procuram se completar com a esperança de se religar ao divino, na tentativa de retornar à essência de onde viemos.

Para encerrar o programa, traz-se Big Bang Big Boom (Blu, 2010), que, utilizando-se de diversas técnicas e objetos – pedra, canos, furgões, lixeiras, bola, luvas etc -, propõe um novo olhar sobre o velho e aparentemente desgastado – seja os objetos que usa ou a própria temática da evolução. Um olhar ao mesmo tempo maravilhado e cético sobre o que temos feito com o que temos nas mãos.

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