06/12/2010

O paradoxo da solidão contemporânea em A Rede Social


Depois de ter construído o painel mais sincero sobre a sociedade dos anos 90 com Clube da Luta (Fight Club, 1999), David Fincher volta novamente seu olhar para o contemporâneo, apresentando desta vez um olhar menos raivoso, mas, ainda assim, tão autodestrutivo quanto em A Rede Social (The Social Network, 2010).

Mark Zuckerberg, em 2003, após romper com uma namorada, cria um site em que, através de um algoritmo, permite aos alunos de Harvard escolher entre as garotas mais gostosas da universidade, tornando-o persona non grata em todo o campus. Fascinados pela chamariz que o fato causou na universidade, os irmãos Cameron e Tyler Winklevoss, que desejam criar uma rede de relacionamentos por um site exclusivo na internet, convidam Zuckerberg para trabalhar em sua equipe. No entanto, ele inapropriadamente se aproveita da idéia dos alunos para criar o Facebook, uma das maiores redes sociais criadas nos últimos anos. Tendo como base o livro “Bilionários Acidentais”, o roteiro de Aaron Sorkin equilibra três linhas temporais para delinear a personalidade destrutiva e solitária deste empreendedor que, ironicamente, possibilitou uma influência imensurável na maneira como as pessoas se relacionam na atualidade.

De maneira semelhante ao Daniel Plainview de There Will Be Blood (Paul Thomas Anderson, 2007) ou ao Charles Foster Kane de Citizen Kane (Orson Welles, 1941), presenciamos um homem criar em si mesmo seu monstro, caminhando rumo a sua solidão deliberada, mesmo que seja sua própria forma de caverna: no mundo contemporâneo, é impossível ficar sozinho. Mark afasta todos que estão em seu redor: namorada, o melhor amigo, possíveis anunciantes, como se a única pessoa com quem se sentisse confortável fosse a si mesmo. Ele parece assumir essa condição com muita propriedade, enquanto todos nós parecemos nos enganar com a possibilidade de existência de algum diálogo sincero em uma sociedade onde o real e o virtual se mesclam com cada vez menos certeza daquilo que experimentamos.

Fincher constrói seu painel crítico com bastante habilidade, trazendo de forma dinâmica e intrincada a cadeia de situações com um trio de protagonistas que nunca declinam em sua interpretação. Eisenberg brinda o espectador com uma performance sempre incisiva e racional que conquista o público pela inabalável certeza de suas convicções; Gilbert, com sua visão humana e sofrida do amigo Eduardo Saverin, que foi traído Mark quando o Facebook fazia sucesso; e Timberlake, que mostra um Parker à vontade e despretensioso que atrai os holofotes logo em sua primeira cena. Aliando a essa faceta humana enquadramentos e fotografia elegantes, o diretor apóia-se em diálogos precisos e dinâmicos em uma profusão de situações que carregam seu espectador para dentro do seu universo sem aviso.

Fincher retrata uma juventude que cria constantemente para si a utopia de se conectar com o mundo através de uma rede social, mas que, na verdade, vive mais solitária do que quando todos nós utilizávamos somente o olho no olho. Não sabíamos o quão felizes éramos.


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