15/12/2010

Tropa de Elite 2 – Um Governo de Violência


Formadas por policiais, bombeiros, vigilantes, agentes penitenciários e militares, fora de serviço ou na ativa, as milícias são grupos criminosos que controlam várias favelas da cidade do Rio de Janeiro, intimidando e extorquindo moradores e comerciantes a pretexto de garantir a segurança contra traficantes.

Esse é o novo inimigo que surge em Tropa de Elite 2, em que Coronel Nascimento encara o desafio de bater de frente com o sistema que domina o Rio de Janeiro, ele descobre que o problema é muito maior do que imaginava. Ele precisa equilibrar o desafio de pacificar uma cidade ocupada pelo crime com as constantes preocupações com o filho adolescente. Quando o universo pessoal e o profissional de Nascimento se encontram, o resultado é explosivo. Com roteiro de José Padilha e Bráulio Mantovani, o longa promove uma evolução para o longa original, desenvolvendo melhor suas personagens e tornando-o um dos melhores filmes nacionais dos últimos anos.

Mantovani, com seu trabalho neste longa consegue se estabelecer como um dos melhores roteiristas de sua geração, propondo três linhas narrativas que jamais se perdem, mas prendem o espectador em sua dialética complexa: o núcleo de milícias, o núcleo familiar de Nascimento, o núcleo da candidatura governamental. Tendo Nascimento como ponto de intersecção entre estes núcleos, o roteiro, logo de início, recorre a uma estratégia utilizada em Cidade de Deus, do mesmo autor: Nascimento principia o tom irônico de sua narração em ponto-chave de sua narrativa – um tiroteio de que é o principal alvo – e retornando ao começo da história, quando, tempo depois, as imagens mostram um final diferente do esperado, levando ao desenvolvimento do ato final do longa.

Urgente, tenso e doloroso. Adjetivos que se aplicam tanto à direção de Padilha – que se fortalece com enquadramentos precisos, uma edição ágil e orgânica, uma trilha sonora poderosa e uma paleta de cores variada e funcional – quanto ao desenvolvimento de seu elenco. Enquanto Wagner Moura constrói um Nascimento cujas nuances de ansiedade, remorso e tristeza humanizam ainda mais o ícone pop que ele ajudou a criar, firmando-o entre os melhores atores da atualidade, Irandhir Santos emerge como contraponto à altura do Coronel, oferecendo Deputado Fraga firme em seus princípios, e Maria Ribeiro firma-se como uma coadjuvante que garante seu espaço, mesmo que em poucas cenas, assim como o restante do elenco.

Incrível na empatia que provoca no espectador, Padilha carrega nas tintas da crítica e da violência a fim de denunciar e acalorar as discussões sobre a violência no Brasil. Se Nascimento parece ter encontrado na sua fala diante do tribunal que julga os culpados um resquício de esperança de transformação, quem sabe o cidadão comum possa se satisfazer com a crença no herói que existe dentro de si, pronto para encarar as conseqüências que esta luta arrasta consigo.

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