13/12/2010

Vicky Cristina Barcelona Happening



Happening - do inglês, acontecimento - é uma forma de expressão artística que, apresentando características das artes cênicas, incorpora algum elemento de espontaneidade ao cotidiano do público que o experimenta no momento em que é representado.

Vicky Cristina Barcelona conta a história de duas jovens americanas - a conservadora Vicky e a aventureira Cristina -, que viajam para Barcelona a fim de passar as férias de verão e acabam se envolvendo em confusões amorosas com um artista extravagante – Juan - e sua insana ex-esposa – Maria Elena -, o que termina se tornando um happening para suas vidas aparentemente normais. Ambas equilibram-se e desencaminham-se constantemente entre a ação passional e períodos de reflexão sobre o que vivenciam, sem julgamento ou moralismo, mas como simples fatos da vida. Os rompantes de desatino das personagens que Allen nos apresenta nesse longa cativam pela sua sinceridade e humanidade, mas acima de tudo pela destreza com que são interpretados, principalmente nas performances marcantes de Johansson e Cruz como a dupla de moças que equilibram o coração volátil de Bardem.

Allen, no entanto, aparece de forma mais aparente na racionalidade paranóica e quase destrutiva de Vicky, que, com seu excesso de análise diante das situações, termina, a princípio, se tornando irritante e neurótica como a persona de seu diretor sempre se deixa mostrar. Contudo, em Cristina, percebe-se um Allen desejando que sua verve passional o encaminhe para a beleza do mundo, como se ele, ao sair das sensações úmidas e cinzas de Nova York, tivesse, se de fato, encontrado alguma paixão em sua vida. Woody Allen, de alguma forma, parece que se tornou, além de cineasta, um personagem nos cânones da cinematografia norte-americana, sempre retratando os dilemas e situações ao mesmo tempo vazios e complicados de um cotidiano caracterizado pela verborragia e excesso de racionalidade. E nesse longa, revela um Allen que se permite navegar por outros mares, além das neuroses cotidianas, sem, no entanto, abandoná-las por completo, mas percebê-las sob outra perspectiva, diante de uma beleza que troca a insegurança e a repressão da metrópole nova-iorquina pela exuberância e verve criativa de uma Barcelona.

Vicky, Cristina e Cia. propõem ao espectador a realização de um happening com a própria vida, onde o espontâneo e o imprevisível são capazes de transformá-la em uma obra de arte, onde a paixão se torna essência, ingrediente principal para lhe dar o sabor devido, ao invés de um simples condimento que se perde à massa de racionalidade e previsibilidade que parece predominar no cotidiano.

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