20/01/2011

Unbreakable e a fantasia realista de Shyamalan




No seu segundo longa – depois do sucesso estrondoso de O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999) -, M. Night Shyamalan decidiu contar em Corpo Fechado (Unbreakable, 2001)uma história fantástica, mas mantendo a estética realista que tornou seu filme de estréia tão alardeado.

Retratanto com humanidade o universo das histórias em quadrinhos, o filme tem início quando acontece um espantoso desastre de trem choca os Estados Unidos, em que todos os passageiros morrem, exceto David Dunn (Bruce Willis), que escapa ileso do acidente, para espanto dos médicos e de si mesmo. Buscando explicações sobre o ocorrido, ele encontra Elijah Price (Samuel L. Jackson), um homem com uma estranha deficiência – seus ossos quebram facilmente como vidro - que apresenta uma explicação bizarra para o fato: ele é um super-herói.

De início relutante, Dunn começa a compreender suas habilidades ao longo do enredo, na mesma medida em que precisa resolver as pendências de seu casamento com Audrey (Robin Wright Penn) e enfrentar um assassino que está à solta na cidade. Shyamalan, a fim de conduzir sua dramática história de super-heróis por um viés realista, reconstrói elementos e enquadramentos típicos das HQs à sua própria forma. Observe como sempre utiliza os elementos da mise en scène para colocar o herói David Dunn em "quadrados" – ou requadros nas HQs - e utilizando capas e apresentar visualmente Elijah "Sr Vidro" Price através de vidrarias (espelho, televisão etc).Da mesma forma, equilibra esses elementos com parcimônia, sem se utilizar de uma edição frenética ou ângulos inusitados para forçar uma identificação da arte sequencial na construção de sua dramaturgia visual.

Um cineasta que soube tratar da necessidade de superação da condição humana através da criação de mitos maiores do que si mesma, mas que terminou se perdendo ao longo do caminho dos deuses.

12/01/2011

Namorada de Aluguel e a ascensão nerd


Visto depois de tantos anos depois de seu lançamento, podemos encaixar Namorada de Aluguel no que se pode classificar como “filmes da ascensão nerd”, preconizados neste e em tantos outros longas que lhe sucederam.

Contudo, se nos anos 80 e 90, os protagonistas geralmente eram motivo de escárnio por conta de suas maneiras e seu deslocamento social – vide A Vingança dos Nerds -, hoje eles estão sendo estudados como personagens tridimensionais – vide A Rede Social -, indo além do simples estereótipo perpetuado por filmes como Superbad e séries como The Big Bang Theory.

Neste longa, temos a história de Ronald Miller (Patrick Dempsey), um jovem tímido e trabalhador que sempre sonhou em ser popular no colégio. Quando ele descobre que Cindy Mancini (Amanda Peterson), uma garota linda que todos os garotos paqueram, está precisando de 1000 dólares ele surge com uma insólita proposta: empresta o dinheiro a ela e em troca ela deverá fingir ser sua namorada, para que ele alcance a popularidade almejada.

As diferenças que podemos apontar entre este exemplar e os mais modernos podem ser resumidos em dois tópicos que se complementam: a aceitação de sua identidade e a conseqüente ascensão na soceidade. Enquanto que nos idos de 80 e 90, o principal desejo destas figuras era se transformar em pessoas diferentes de si mesmas a fim de alcançarem a popularidade, hoje, percebemos não somente uma aceitação do nerd em sua condição e identidade, mas uma superação dos estereótipos do gênio da informática ou ciências exatas para obter o status de empresários criativos e milionários.

Esta mudança ocorre por conta de uma sociedade que viu Steve Jobs, Bill Gates e, mais recentemente, Mark Zuckerberg ascenderem meteoricamente por conta de suas invenções, e não por uma renegação de suas personalidades deslocadas socialmente. Interessante presenciar as mudanças que as representações culturais demonstram quando a sociedade passa a se ver no cinema.

Joe Dante e o fantástico trash infanto-juvenil


Com uma filmografia que inclui títulos como Meus Vizinhos São Um Terror, Gremlins e Viagem Insólita, percebe-se que Joe Dante sempre procurou tratar de temas fantásticos, mas trazidos para o cotidiano dos subúrbios, de gente comum em situações extraordinárias, como um thriller de proporções ilimitadas.

Em Viagem ao Mundo dos Sonhos, os sonhos visionários de três meninos curiosos e aventureiros transformam-se em uma excitante realidade, numa mistura que combina humor inteligente, afeto e fantasia, com inesperadas reviravoltas. Em seu improvisado laboratório, os garotos usam sua genialidade e também uma surpreendente descoberta para construir sua própria nave espacial e lançarem-se em uma fantástica viagem interplanetária, repleta de seres alienígenas e equipamentos eletrônicos.

O trio de protagonistas – formado por River Phoenix, Ethan Hawke e Bobby Fite – segura a simplicidade do longa com propriedade, representando bem os estereótipos com que precisam lidar. Eles carregam com afeto a missão de dar vida àqueles jovens inocentes e sonhadores, revelando uma inocência perdida em algum lugar no tempo na sociedade contemporânea. Além disso, Dante moderniza a ficção científica dos anos 50 e a contextualiza para o cotidiano daquelas crianças. Se hoje, encaramos como plena fantasia os desvarios eletrônicos de Jimmy Neutron e Dexter, a intenção do diretor era de tornar o mais palpável possível aqueles que teve durante sua infância.

06/01/2011

A juventude de John Hughes e Gatinhas e Gatões


Durante os anos 80, John Hughes terminou se tornando um dos diretores que começou a trazer maior visibilidade para a juventude abaixo dos 20, trazendo à tela as situações cômicas e dramáticas de uma geração que tinha resquícios de uma liberação sexual das décadas anteriores, mas não conhecia muito bem seu significado ou o que fazer com ela.

Dirigindo filmes icônicos como Curtindo a Vida Adoidado, Clube dos Cinco, Mulher Nota 1000 e este Gatinhas e Gatões, Hughes trouxe uma juventude cuja revolta não era por coisas grandes ou revolucionárias, mas pelas coisas pequenas que todos precisamos enfrentar diariamente: um dia tedioso na escola, uma festa de aniversário esquecido, a falta de uma namorada ou um fim de semana perdido na escola.

Contudo, seu cinema, apesar de escapista, traz esses jovens comuns e cotidianos para o centro da locomotiva para que seu público veja a si mesmo na tela. Eles não estão mais enfrentando seres fantásticos ou sendo coadjuvantes de uma história protagonizada por adultos, mas estão contando suas próprias histórias de vergonha, desespero, amizade e relacionamentos.

Se hoje, a juventude não está mais inocente como Samantha Baker - que, dentre outras coisas, gosta de um rapaz que namora outra moça mais bonita, é assediada por um rapaz inconveniente e ainda tem a festa de seu aniversário de dezesseis anos esquecida -, resta-nos o registro de uma época em que tudo isso era grande o suficiente para receber um abraço caloroso da família.

05/01/2011

Top Gun e a maquinaria como palco


Ver Top Gun pela primeira vez 25 anos depois de seu lançamento é uma experiência interessante, com a finalidade de se perceber a trajetória de seu diretor como um “obreiro” dos filmes de ação, onde, geralmente, as maquinarias são o palco do desenvolvimento das ações de seus heróis – vide O Sequestro do Metrô 123 e Incontrolável.

No caso deste, um porta-aviões onde Tom Cruise interpreta Pete Mitchell, conhecido como 'Maverick', um jovem e talentoso piloto que ingressa na Academia Aérea da Marinha Americana. Sua trajetória envolve uma bela mulher chamada Charlotte Blackwood e uma constante disputa com 'Iceman', um piloto à sua altura.

Apesar de envelhecida, a trama torna-se um deleite para Scott entrar no ritmo videoclíptico da edição MTV, tornando-se sua principal marca ao longo dos anos, assim como para Tom Cruise ter sido o astro construído para levar as adolescentes ao delírio. Uma fórmula que passou de algo interessante para, depois de repetida á exaustão, terminou se tornando banal e levando à renovação dos Neos e Bournes da vida.