02/03/2011

127 Horas e a autoria da própria história


Nos longas de Danny Boyle, o acaso torna-se ferramenta através da qual seus protagonistas precisam superar suas expectativas a respeito de si mesmos a fim de conseguir simplesmente sobreviver, vide as crianças e jovens indianos de Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire, 2008) e o famigerado Rent Boy de Trainspotting (Trainspotting, 1996). Em 127 Horas (127 Hours, 2010), Boyle conta a história real de Aaron Rolston, alpinista que, numa de suas tresloucadas viagens, termina preso em um cânion isolado de tudo e de todos.

Com um dos braços preso numa rocha, ele precisa encontrar uma forma de sair e continuar sua vida, mas não da mesma forma que entrou: aos poucos, Rolston começa a perceber o quanto estava distanciado das outras pessoas, o quanto suas viagens representavam uma fuga de um compromisso com elas e, talvez, consigo mesmo. E, em uma metáfora dilacerante, ele só consegue sair do seu infortúnio deixando parte de si mesmo naquele lugar, como se precisasse mesmo abrir mão de si para que os outros encontrassem seu espaço na vida dele.

Com um roteiro que investe na presença forte do protagonista, Boyle deixa Franco à vontade para construir uma persona elétrica, irresponsável, mas, acima de tudo, cativante, um ser humano real, que precisa aprender o valor da responsabilidade. Além disso, ele se utiliza de uma edição dinâmica e fragmentada que joga o espectador para dentro da mente veloz de Rolston, permeada por flashbacks e sonhos que contribuem para manter o mundo externo dentro do cânion. No entanto, essa mesma edição entrecortada termina diminuindo o impacto da situação de Rolston, pois, de certa forma, ele não fica isolado, mas as outras pessoas permanecem como imagens junto dele.

Existem vantagens e desvantagens na escolha que Boyle fez na direção do longa, da mesma forma que Rolston obteve quando precisou escolher a vida, mesmo que com um membro a menos. Estamos sempre realizando opções que podem nos trazer ganhos e/ou malefícios, nem sempre na mesma medida, cabendo a nós lidar com ambos de uma maneira que nos permita, de fato, sobreviver.

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