09/04/2011

The Blues Brothers e o submundo musical


Baseado em uma banda de r&b criada como esquete cômico-musical do programa norte-americano Saturday Night Live, John Landis realiza em Os Irmãos Cara-de-Pau (The Blues Brothers, 1980, John Landis) um musical disfarçado de comédia policial – ou vice-versa – que prima pelo absurdo das situações em que o roteiro joga seus protagonistas.

Logo que sai da cadeia, depois de três anos, Jake Blues é levado pelo seu irmão Elwood para visitar a freira Mary, que lhes conta a respeito das dificuldades financeiras que o orfanato que administra tem enfrentado – ao mesmo tempo em que os pune com uma palmatória por terem blasfemado e falado palavrões. Mesmo que não tenham se convencido pelas palavras de repreensão dela, a convite de um de seus amigos, vão a um culto em uma igreja evangélica e Jake – em um número que mistura revelação e animação - recebe uma luz a respeito do que precisam fazer para salvar o orfanato da freira: retornar com a banda que havia se desfeito pouco depois de Jake ter ido para a prisão.

A partir desse mote, Landis compõe uma série de esquetes cômico-musicais estrelados por gênios da música black – Aretha Franklin como uma dona de restaurante desbocada, James Brown como o pastor de uma igreja alucinada, Ray Charles como um dono de loja de instrumentos musicais e os integrantes da própria banda The Blues Brothers – e com personagens emergentes de um universo figurativo vindo da própria mídia. O roteiro despretensioso e insano de Landis e Dan Aykroid conquista instantaneamente o público com a caracterização de personagens surreais – como a misteriosa e violenta mulher interpretada por Carrie Fisher que, em sua primeira cena, empunha uma bazuca engatilhada para os irmãos; ou os membros de um partido político nazista e os vingativos cantores de música country – em situações inóspitas.

Se durante muito tempo, o gênero musical acompanhou personagens do show business afeitas ao jazz inocente, Landis volta sua câmera para o submundo do blues e do soul, trazendo personas deslocadas do universo real, mas pertencentes ao um mundo musical subalterno que ganha visibilidade aprendendo a rir de si mesma.


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