10/09/2011

A tragédia da consciência: Planeta dos Macacos – A Origem



“Minha natureza simiesca passou a afastar-se de mim a olhos vistos, tão depressa que meu primeiro treinador é que quase se transformou num macaco” (Franz Kafka)

Em seu famoso conto Comunicação a uma academia, Franz Kafka utiliza-se da história de um macaco que relata aos estudiosos presentes em sua palestra o processo de hominização que terminou atravessando desde que foi capturado pelo seres humanos. Com certo tom de melancolia, o macaco nos faz perceber quão nociva pode ser a consciência a respeito de nossa condição humana predadora e desnudante.

No longa O Planeta dos Macacos – A Origem (Rise of the Planet of the Apes, 2011, Rupert Wyatt), vemos um pouco dessa discussão da relação homem-primata com o seguinte enredo: Will Rodman procura financiamento para sua pesquisa da cura do Mal de Alzheimer, que pode ser viabilizada através de um remédio testado em chimpanzés. Estes passam a desenvolver uma inteligência fora do convencional depois que passam por estes testes com protótipos do medicamento, sendo um deles César, chimpanzé adotado por Will depois da morte da mãe do símio no laboratório. Com o tempo, o primata começa a tomar consciência de sua condição e a se inconformar com o tratamento que os humanos infringem sobre ele e os outros macacos, levando-o à revolução.

Com um roteiro que destrincha sem pressa a ascensão de César, Wyatt oferece espaço para destacar o trabalho de Andy Serkis como o símio, enfatizando a tragédia de se ter a consciência das misérias que o cercam. Enquanto o excelente trabalho de Serkis rouba a cena, James Franco equilibra a dose com a concepção de um cientista obstinado pelo seu trabalho, mas que o realiza pela paixão de ver a solução de um problema próximo a si – no caso, a doença degenerativa que acomete seu pai, interpretado por um John Lithgow correto. Além deles, observa-se uma Freida Pinto ser subutilizada como par romântico e “voz da consciência” de Will em certos momentos e David Oyelowo relegado ao estereótipo do chefe interessado somente no dinheiro da empresa, um dos clichês mais batidos da história. 

Entretanto, ao observar os elementos técnicos usados por Wyatt no longa, ressalta-se os efeitos especiais que transformaram os movimentos de Serkis no símio e uma montagem fluida que investe na identificação do público com o protagonista e, em sua parte final, nos cortes abruptos típicos do gênero de ação. Patrick Doyle compõe uma trilha sonora adequada, mas não memorável e Andrew Lesnie investe em uma fotografia que realça os tons frios e acinzentados típicos da ficção científica, deixando as cores para os momentos mais emocionais do longa. Em suma, o longa de Wyatt oferece novo fôlego para a franquia dos macacos que dominam a Terra, pois investe no elemento fundamental de qualquer história: seus personagens.

Focando na inevitabilidade das consequências que este “abrir de olhos” pode proporcionar, Wyatt aposta na velha fórmula do “ciência – consciência = perigo” para oferecer um pouco mais - mas não muito - do que entretenimento escapista, mas uma tentativa de trazer certa reflexão sobre as virtudes e os infortúnios do conhecimento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário