14/10/2011

Capitães da Areia e seus descompassos



O que entendemos por descompasso? Trata-se de ausência de compasso, de regularidade, de medida entre dois ou mais instâncias / parâmetros que andam em paralelo, exibindo suas imperfeições enquanto tentam caminhar paralelamente. A partir deste preâmbulo, começo esta resenha afirmando que Capitães de Areia (idem, 2011, Cecília Amado) comporta-se como uma obra cinematográfica descompassada entre todos os elementos que compõem a sétima arte.

Baseada no livro de Jorge Amado, a obra versa sobre um grupo de garotos de rua, liderados por Pedro Bala, que vivem nas ruas da Bahia praticando pequenos furtos e cortejando as prostitutas da cidade. A partir desse mote, temos as várias situações que permeiam a narrativa: o aparecimento de Dora e Zé Fuinha, as brigas com uma gangue rival e a prisão de um deles no reformatório.

Para sua caracterização do romance, Cecília Amado emprega uma bela paleta de cores - que torna ainda mais bela a cidade de Salvador - e uma trilha sonora eclética e agradável - que, na verdade, funciona mais fora da tela do que dentro dela - para construir seu longa, mas parece se apoiar exclusivamente nestas ferramentas para trazer um pouco de vida aos personagens na tela. O elenco, formado por não-atores, até tenta se esforçar, mas não consegue, de modo algum, dar vida para os personagens, oferecendo cenas e mais cenas constrangedoras onde as crianças parecem que não sabem o que estão dizendo com aquelas frases. Se, por um lado, posso louvar seu esforço em oferecer um longa que não seja estrelado por atores globais ou com a “limpeza estética” do padrão Globo de qualidade, percebo que não houve diligência em trabalhar as atuações dos garotos e, se houve, ele não foi suficiente para conduzir o espectador pela história que já encantou tantas gerações na literatura brasileira.

Mesmo que não seja um filme que faça vergonha ao cinema nacional, neste descompasso advindo da inexperiência, a diretora termina por alavancar seu esforço no design visual e sonoro da produção, mas termina ignorando o poder que os atores possuem de nos fazer esquecer todos estes elementos coadjuvantes na realização fílmica quando assistimos a uma que nos toca profundamente.

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