02/10/2011

Detroit Rock City e a idolatria nossa de cada dia



O ser humano, em suas sensações de inferioridade, cria ou adora mitos que o conduzam a algum estado de êxtase superior ao cotidiano banal e prosaico com que precisa lidar. Se, na Antiguidade e Idade Média, emergiam os diversos deuses da Mesopotâmia e Egito, passando pelo Deus do cristianismo, pelo Alá do Islamismo, chegamos, a partir da Idade Moderna, ao homem que enfatiza o olhar para si mesmo, para o “deus” dentro de si mesmo, em sua racionalidade. A famigerada Pós-Modernidade, entretanto, começa a propagar a descrença em possíveis valores absolutos, como Razão, Fé ou qualquer coisa do gênero. Quem são, portanto, os novos mitos que adoramos? Os pop-rock-disco-reggae...stars, as celebridades instantâneas, e, em tempos de Youtube, Facebook e similares, A VIDA ALHEIA.
                
A partir deste preâmbulo, não fica muito difícil perceber o subtexto presente em Detroit Rock City (idem, Adam Rifkin, 1999), uma comédia absurda e divertidíssima que versa sobre quatro jovens no final de sua adolescência que, em sua veneração inabalável pelo grupo KISS, parte para Detroit para assistir aquele que seria o show de suas vidas. Os quatro jovens, em suas personalidades distintas, se complementam e se ajudam nas encrencas em que se metem ao longo da jornada: enquanto Jam chega mais perto de ser nosso protagonista ao ter seu sofrimento em não conseguir enfrentar sua mãe católica ortodoxa e fumante compulsiva mais destrinchado, os outros se dividem entre o desprendido e revoltado Hawk, o lerdo Trip e o nice-guy Lex. Cada um, a seu modo, procura encarar os preconceitos com aqueles que não entendem seus sentimentos em relação ao grupo de roqueiros conhecidos como demônios, bichas, baderneiros, dentre outras nomenclaturas pouco elogiosas.

Dentre as inúmeras personagens e situações arquitetadas pelo roteirista Carl V. Dupré – conhecido por filmes B de terror, experiência utilizada em determinada sequências do longa -, Rifkin usa sua versatilidade como ator, escritor e produtor para dirigir um longa com uma velocidade e uma qualidade pop bem MTV. Ou seja, a direção atualiza as conquistas da geração do final dos 70 para um novo público ao trazer numa linguagem juvenil e dinâmica ícones da época como Burt Reynolds, As Panteras, MAD Magazine, Star Wars e outros que fizeram a cabeça de seus pais. A linguagem de desenho animado nonsense faz a festa com um maniqueísmo alucinado e, às vezes, expressionista proporcionam o ponto de vista dos jovens sobre suas próprias descobertas e sensações do que significava ‘ser jovem nos anos 70’.

Com personagens cativantes e divertidos envoltos em uma trama cheia de peripécias e absurdos, Detroit rock City é uma boa pedida para um sábado à noite regado a muito rock setentista para reviver uma época. Se o homem um dia foi chamado de servo, fiel, adorador de seus deuses, hoje, ele encara uma nova nomenclatura diante de seus deuses: fã.

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