30/10/2011

O Palhaço e a melancolia chapliniana




Qual o meu espaço no mundo? Qual a minha missão, minha razão de ser e estar nesse estranho e, por vezes, desesperançado universo? Cada um nasce não para um sentido único, mas para encontrar sua própria direção em meio a tantas outras que parecem concorrer ou divergir do caminho que escolhemos. Por vezes, nós mesmos escolhemos dar um passeio por outras trilhas para tentar nos distanciar de uma reta que parece, às vezes, não nos satisfazer mais.

Segundo longa do conhecido ator global, O Palhaço (idem, 2011, Selton Mello) trata da história de Benjamin, palhaço de circo que segue a carreira do pai, Valdemar, mas que se encontra insatisfeito com sua obrigação em “fazer rir” quando, na verdade, o que mais desejava era ter alguém com quem chorar e desabafar todas as lagrimas que vem carregando há tempos. Andando com seus bizarros colegas de picadeiro pelas cidades, termina passando por diversas situações até que resolve se distanciar da lona do pai para encontrar seu próprio abrigo no mundo dos trabalhos convencionais.

Com um enredo simples, mas entremeado com episódios bisonhos e engraçadíssimos, eles ganham maiores contornos com a tripla jornada de Mello como protagonista, diretor e co-roteirista, que lhe permite adensar a temática e a estética que optou por trabalhar no longa. A direção, se comparada com Feliz Natal e sua câmera nervosa, ganha planos compostos de maneira mais “desenhada” e estável, com travellings que transmitem certa delicadeza e fluidez ao universo circense. Relembrando em certas passagens o cinema de Wes Anderson e Zach Braff tanto nas ideias – as estranhas relações familiares e a descoberta de si mesmo num mundo atemporal e, ocasionalmente, pueril - como na forma de conduzi-las diante do espectador – como em alguns enquadramentos estáticos e na galeria imensa de personagens –, a direção de Mello se aprimora com o elenco numeroso que passeia pela tela.

Enquanto Selton esbanja simpatia e lirismo com seu confuso e divertido Benjamin, Paulo José emociona com um Valdemar esperançoso e dolorido, e a galeria de atores que compõem a trupe e os personagens toscos que encontram de cidade em cidade – que inclui Moacyr Franco, Fabiana Karla e Jorge Loredo em participações mais do que agradáveis. A edição fluida, a fotografia viva e a trilha sonora leve ajudam a compor esse painel patético e esperançoso de uma humanidade que ainda pode se reencontrar olhando para si mesma.

Com uma melancolia quase chapliniana que permeia todo o longa, gradativamente Mello se firma como um dos diretores mais sensíveis do cinema brasileiro contemporâneo, pois compartilha experiências e sensações que atravessam não somente as relações familiares, mas principalmente, o homem por trás da máscara.

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