30/10/2011

Real e paralelo? – Contra o tempo




O que podemos classificar como mundo real? E quanto às imagens em nossa mente? O que separa um universo do outro? A fantasia e, mais especificamente, a ficção cientifica durante muito tempo trabalharam com esse tipo de temática que resgata temas de discussão desde a filosofia grega, como o Mito da Caverna, de Platão. Desde então, debater as relações entre corpo e mente tornou-se tarefa cada vez mais sofisticada nas artes, principalmente o cinema.

Contrao Tempo (The Source Code, 2011, Duncan Jones), apesar da tradução cretina, termina se tornando uma bela pérola em meio às tramas simplórias que inundam os multiplexes. Em meio a uma viagem de trem, um homem chamado Sean desperta do que parece ser um transe e desconhece o que seu corpo estaria fazendo naquele lugar, assim como a moça com quem divide o assento do transporte. Absorve cada detalhe do ambiente, tentando encontrar alguma relação com a ideia que possui a respeito de sua própria história. Aparentemente desmemoriado, o rapaz tenta sair do trem, mas é surpreendido por uma intensa explosão que matou a todos os passageiros do trem e o faz acordar numa escotilha com uma certeza: ele não era Sean, mas Colter Stevens, um soldado americano tido como morto na Guerra ao Iraque. Como explica a Tenente Goldwin, aquela explosão aconteceu na manhã daquele dia e sua mente está sendo “implantada” no corpo de Sean, passageiro morto no atentado, para que ele desubra a pessoa que causou a explosão que o vitimou.

Complexo? Pois é. A trama do longa não é algo típico do público-pipoca, já que exige mais atenção do que os descerebrados filmes de Michael Bay para que atinja os efeitos que almeja: dar um nó na cabeça do espectador. A princípio, a repetição de situações incomoda um pouco, mas o crescimento qualitativo das emoções envolvidas torna a experiência ainda mais gratificante. Com uma direção pesada e tensa, Jones trabalha bem com seus atores, deixando-os conduzir a trama complexa em eventos e sentimentos: Jake Gyllenhall carrega na densidade da condição de sua personagem, sem ignorar seu lado de filme de ação; Vera Farmiga torna-se a contrapartida perfeita para o desespero do protagonista, com uma tranquilidade tensa e instável que se revela mais humana do que se esperava; Jeffrey Wright, infelizmente, termina ressoando clichês de cientistas mais preocupados com a ciência do que com os seres humanos; e Michelle Monaghan encanta pela beleza e simpatia.

Com um clímax extremamente competente em transmitir e emoção da sensação da eternidade de um instante perpetuado na mente do protagonista, o diretor, entretanto, termina cedendo a um final feliz em demasia, conduzindo seus personagens para um espaço que, diante da ausência de qualquer explicação, gera ainda mais perguntas, deixando o espectador livre para construir suas próprias conclusões.

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