07/02/2012

Maria Antonieta e o hedonismo como fuga dos dissabores




Sofia Coppola, desde seus primeiros filmes, trabalha com delicadeza a condição de seus personagens diante de um contexto que parece não lhes satisfazer por completo, mas, muito pelo contrário, são a principal causa de seu descontentamento. Nos filmes Encontros e Desencontros (2003) e Um Lugar Qualquer (2011), os personagens masculinos estão, de certa forma, à deriva, perdidos em sua própria falta de vontade em prosseguir, encontrando na figura feminina uma espécie de redenção que lhes resgatasse uma vivacidade há tempos esquecida.


Em Maria Antonieta (2007), Coppola volta seu olhar para as mulheres, mais especificamente uma, a rainha austríaca que se tornou desafeto na França por conta da futilidade com que conduziu o reinado, gastando bastante dos fundos bélicos do país em festas, comidas e roupas. Com um roteiro em que se enfatiza o “nada” repetitivo que acontecesse na vida da rainha, a personalidade insatifeita e hedonista saltam aos olhos do espectador, por meio de figurinos e uma direção de arte caprichados e exuberantes, como a própria Maria gostava de se ver.


Por meio desses recursos, além da polêmica trilha sonora calcada no rock’n’roll para atualizar o espírito juvenil da rainha para as platéias contemporâneas, Coppola procura explorar uma personalidade que, desde o começo, mostra-se despreparada para assumir a responsabilidade da condução de uma nação. Enfatizando a exacerbação dos prazeres, o ócio, a insatisfação sexual e a futilidade, a diretora exibe justamente a ausência de sentido na condição com que sua protagonista conduz sua existência. Apesar de ser um tema recorrente na sua filmografia, ela, entretanto, despe-se do tom intimista que lhe é característico para explorar o mundo como a própria Antonieta via: cheio de belezas singulares, independente dos protocolos, das regras e títulos. Sentir-se viva era essencial para Antonieta.

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