Sofia
Coppola, desde seus primeiros filmes, trabalha com delicadeza a condição de
seus personagens diante de um contexto que parece não lhes satisfazer por
completo, mas, muito pelo contrário, são a principal causa de seu
descontentamento. Nos filmes Encontros
e Desencontros (2003) e Um Lugar Qualquer (2011), os personagens masculinos
estão, de certa forma, à deriva, perdidos em sua própria falta de vontade em
prosseguir, encontrando na figura feminina uma espécie de redenção que lhes
resgatasse uma vivacidade há tempos esquecida.
Em Maria
Antonieta (2007), Coppola volta seu olhar para as mulheres, mais
especificamente uma, a rainha austríaca que se tornou desafeto na França por
conta da futilidade com que conduziu o reinado, gastando bastante dos fundos
bélicos do país em festas, comidas e roupas. Com um roteiro em que se enfatiza
o “nada” repetitivo que acontecesse na vida da rainha, a personalidade
insatifeita e hedonista saltam aos olhos do espectador, por meio de figurinos e
uma direção de arte caprichados e exuberantes, como a própria Maria gostava de
se ver.
Por meio
desses recursos, além da polêmica trilha sonora calcada no rock’n’roll para atualizar o espírito juvenil da
rainha para as platéias contemporâneas, Coppola procura explorar uma
personalidade que, desde o começo, mostra-se despreparada para assumir a
responsabilidade da condução de uma nação. Enfatizando a exacerbação dos
prazeres, o ócio, a insatisfação sexual e a futilidade, a diretora exibe
justamente a ausência de sentido na condição com que sua protagonista conduz
sua existência. Apesar de ser um tema recorrente na sua filmografia, ela,
entretanto, despe-se do tom intimista que lhe é característico para explorar o
mundo como a própria Antonieta via: cheio de belezas singulares, independente
dos protocolos, das regras e títulos. Sentir-se viva era essencial para
Antonieta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário