18/01/2013

Detona Ralph e a máscara da vilania


A grande vague de reciclagem oitentista vem dominando cada vez mais os produtos de mídia, gerando musicais como Rock of Ages, os últimos filmes de comédia adulta, como A Ressaca e Este é o meu garoto. Nesta esteira, temos este DetonaRalph (2012, Rich Moore), que além de apostar no universo dos games, o que já rende um amplo self service de possibilidades, demonstra apontar para algumas tendências que tem aparecido com frequência em filmes recentes: atrair crianças, mas também também a adultos que cresceram nos anos 80 e 90 com inúmera referências pop (cinessérie Shrek); apostar na inversão dos papeis de vilão e herói (Meu Malvado Favorito e Megamente) e apostar na ascensão dos excluídos / minorias como temática (série Glee e derivados).

Como um produto típico do seu tempo, Detona Ralph brinca ao fazer referência aos diversos gêneros e formatos dos jogos (dos clássicos 8 bits aos sofisticados jogos estilo CS e similares), mas sempre com foco na história: Ralph (John C. Reilly) é o vilão do jogo Fix It Felix Jr e não se sente mais confortável nesta condição, decidindo procurar outro jogo em que possa ser o herói, ganhando uma medalha pelos seus feitos. No desenrolar da história, ele encontra Vanellope (Sarah Silverman), uma garota que precisa vencer a corrida no jogo Sugar Rush para conseguir ser uma das personagens principais do mesmo. Como se vê, os jogos são visto como várias empresas dos quais os personagens são “funcionários”. Na galeria de personagens clássicos que participaram do filme estão Sonic, Bowser, M Bison, Ryu Ken, Noobi Saibooth e vários outros, contudo, o diretor não se limita a tornar seu filme uma homenagem a estes ícones da infância de tantos. Talvez o maior problema resida justamente na ausência de certa riqueza ao explorar estes personagens, pois a história em si apresenta poucas novidades, apesar de conquistar pela simplicidade e carisma dos dois protagonistas e por ideias como os movimentos bruscos dos 8 bits em alguns personagens do jogo Fix It e a personagem durona Calhoun (Jane Lynch).

Se a história em si apresenta poucas novidades, a direção de arte e a trilha sonora são alguns dos maiores destaques do longa, porque  investem em uma paleta de cores sortida que encanta os olhos e mostra versatilidade ao mostrar universos distintos por meio das formas (como a diferença entre o 8 bit e os jogos com alta resolução e o universo do Sugar Rush, por exemplo, que são diametralmente opostos), enquanto que as músicas investem na releitura de músicas típicas dos videogames oitentistas. Com todos os elementos, Detona Ralph não inverte definitivamente conceitos – e nem pretende –, mas agrada, investindo num discurso que questiona os papeis que a própria narrativa “impõe” aos seus personagens. Quando questiona seu papel dentro da caracterização de seu próprio personagem, Ralph está questionando o ato do narrador em lhe atribuir essa característica, ou seja, ela está problematizando sua própria condição, seu papel naquela sociedade e tirando, momentaneamente, a máscara do vilão para colocar a de herói.  

Quando nos lembramos de Christopher Vogler e seu famoso livro A Jornada do Escritor, vemos que ele trata dos arquétipos diversos (Herói, Sombra, Pícaro, Aliado etc.)  não como papeis estanques e vinculados a determinados personagens, mas como máscaras que podem ser trocadas e/ou divididas entre os mesmos, lembrando que assim o fazemos na nossa própria existência. Somos heróis de nossas próprias histórias, por mais, em alguns momentos, outros nos enxerguem como vilões e vice versa.

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